13 de out. de 2010

O tengu e a jovem Narume


 "A tristeza me abate e  a impotência me assola! Nada anseio além de ter minha neta aqui agora!
Será que nos altos céus alguém pode ouvir este pobre velho a rezar?
Será que antes de morrer poderei lhe abraçar?" 
Oração de um velho avô desconsolado

Um surto epidêmico e a fome de Tenmei (1785) fizeram grande estrago no pequeno feudo de Azottou, localizado entre Nagasaki e Shimabara. Entretanto, estes eventos não se comparam com a desventura que se abateu sobre o pequeno castelo do daimyo de Azottou.

Com a situação crítica da saúde dos habitantes do feudo, a ordem geral foi para que os habitantes contaminados pela peste fossem mantidos isolados do resto do feudo. Isso foi fácil de se realizar até o momento em que a peste se alastrou desordenadamente por conta do contato do povo com animais contaminados.

As febres, delírios, dores musculares e dores intensas de cabeça incomodavam o povo, mas o daimyo não conhecia este sofrimento em sua própria carne e por conta disso sua insensibilidade com os moribundos era grande e crescia tanto quanto percebia que diminuía a capacidade de produção agrícola de suas terras.

O surto epidêmico e a fome se agravaram ao ponto em que o daimyo teve que ordenar o assassinato dos doentes em estagio avançado de contaminação e o confisco dos alimentos da população do feudo, para que o castelo pudesse se manter em isolamento por algum tempo.

A ira do povo foi grande mas o esgotamento era geral e nenhuma revolta podia ser sustentada contra os dez samurais de Azottou e suas lâminas sanguinolentas à favor do daimyo. Por conta disso, os habitantes do feudo tiveram que simplesmente definhar com a fome e a peste em suas casas, pois nem lhes era permitido abandonar o feudo.

Após algum tempo pessoas começaram a morrer e depois de algumas semanas, pessoas começaram a sucumbir diante da calamidade e a se entregarem em atos de antropofagia angustiada. O clímax da desgraça foi quando uma mãe comeu o próprio filho recem nascido que morrera desnutrido.


Neste cenário inóspito foi que a jovem Narume provou o sabor do abandono e desamparo.  Ficou órfã de pai e mãe devido a peste e passou a viver apenas com seu moribundo avô. Foi isso que motivou a pequena a invadir o castelo de Azottou em busca de alguma comida para seu avô.

Narume invadiu o castelo pelo bosque dos fundos e acabou sendo atacada por mosquitos transmissores da peste. Desperada com esta situação, a pequenina corre para a fonte do jardim do castelo na esperança de que a água possa ajuda-la a evitar a contaminação. Sua iniciativa foi frustrada por um dos dez samurais que acabou afogando-a cruelmente na pequena fonte.

Os sentimentos de ira da população em relação aos maus tratos que recebiam do daimyo e seus dez samurais, adicionados as angústias que o velho avô de Narume sentia de sua neta, acabaram por engatilhar um macabro e assustador evento. Três dias depois da morte de Narume, os dez samurais de Azottou  começaram a ser importunados por uma presença zombadora e escarnecedora.

As orações desesperadas dos desgraçados moradores de Azottou e do desesperado avô de  Narume fizeram uma conexão mística com o mundo dos espíritos e o implacável espírito conhecido como Konoha Tengu grisalho começou a visitar o castelo de Azottou a cada noite.

Os sonhos dos dez samurais se tornaram em pesadelos devido aos constantes ataques mentais da criatura de pele vermelha dona de um imenso nariz fálico, assim sendo, dia após dia o castelo ia ficando cada vez mais assombrado. Os dez samurais começaram a surtar diante do horror irritante e sinistro que o tengu fazia cair sobre suas almas. A cada noite a criatura clamava por Narume e por retratação. Foram necessários dez dias para que o tengu tornasse o castelo do daimyo em um pólo de energias sinistras e atividades fantasmagóricas.

Durante estes dias, o fantasma da jovem Narume constantemente corria pelos corredores do castelo com a face ferida pelos mosquitos e cantarolando musicas infantis. Essa presença afligiu tanto os moradores do castelo que a fonte onde a menina fora afogada foi totalmente destruída, numa tentativa desesperada de que isso talvez libertasse a alma da jovem para o descanso eterno.

Diante desta situação alarmante, o daimyo de Azottou resolveu recorrer ao Xogun Tokugawa, na esperança de que ele possa eliminar a ameaça do tengu antes que todo o castelo seja consumido pela criatura, mas o que ele não sabia era que o Konoha Tengu grisalho somente deixará Azottou quando conseguir sanar os sentimentos de perda e saudades do avô de Narume e quando eliminar totalmente todas as pessoas que abusam de seu poder social e status para oprimir e maltratar a população carente do feudo.

Enquanto o daimyo viaja o país atrás de ajuda, o tengu enlouquece o castelo com seus poderes ilusórios e sua criatividade macabra e isso deve permanecer assim por toda a eternidade até que o povo se sinta vingado e o avô de Narume consolado.

É o fim....por enquanto

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário com o devido respeito e honra!